Pages

Tuesday, November 25, 2008

Claude Lévi-Strauss – 100 anos


Dono de um sorriso discreto Lévi-Strauss completa 100 anos no dia 28/11/2008. O último dos grandes pensadores vivos, foi o criador de uma 'nova escola antropológica' e responsável por desmontar bases do colonialismo ocidental. Provavelmente foi superado em alguns aspectos mas a virtude é ter sido redescoberto ainda em vida.

Claude Lévi-Strauss nasceu em Bruxelas, Bélgica, em 28 de novembro de 1908. Filho de Raymond Lévi-Strauss e Emma Lévi, franceses de origem judaica, mudam-se para Paris em 1909. No ano de 1927 ele se escreveu em direito, mas termina o curso de filosofia na Sorbonne. Em 1932 casa-se com Dina Dreyfuss, e em 1933 foi nomeado diretor do Liceu de Lion. Em fevereiro de 1935, embarca para o Brasil e desembarca em Santos[litoral paulista] e passa a viver em São Paulo, na rua Cincinato Braga, 395. Logo assumiria a cadeira de sociologia na Universidade de São Paulo. Não quis renovar o contrato com a universidade, em 1938, para poder realizar sua longa expedição pelo País, de 1935 a 1938.

Brasil
Lévi-Strauss se interessou pela etnografia através de suas viagens ao Paraná e Goiás, onde travou contato com os índios caingangues e os Carajás respectivamente. Em 1936 vai conhecer as tribos Bororós e Caduevos. Já em 1938, para finalizar sua passagem pelo País, realizaria sua grande expedição ao Mato Grosso, e através do Vale Guaporé chegaria até a Amazônia, até então quase inexplorado no Brasil; e voltaria para França logo após, 1939. Para o antropólogo paisagens não são simplesmente visuais, são objetos multissensoriais: Cheiros, cores, e impressões táteis as compõem. Muitas dessas impressões estão na obra literária ‘Tristes Trópicos’ [1955], uma autobiografia narrativa de sua passagem pelo Brasil e ensaio científico sobre os indígenas. Durante os 4 anos que ficou no Brasil percorreu vasta área territorial em busca de experiências direta com as sociedades indígenas, tendo sido encontros essenciais para a antropologia de Lévi-Strauss, consequentemente a antropologia tout court.
Brasil negou-lhe refúgio
O jovem Lévi-Straus não foi reconhecido de imediato no Brasil, mesmo porque nada havia publicado. Passaria a repercutir apenas a partir dos anos 1960 e 1970, sobretudo com os estudos sobre a sociedade gês do Brasil Central. Hoje, vários centros de antropologia do Brasil, tem no pensamento de Lévi-Strauss: contínuo, vivo e atual no sentido de que continua a gerar questões e abordagens. Foi através de sua erudição monumental que Claude Lévi-Straus inseriu seu pensamento ameríndio no horizonte da filosofia do Ocidente.
Considerado um dos mais importantes intelectuais do século XX e responsável pela revolução na antropologia, fruto do contato com os indígenas brasileiros na década de 1930. Tais contatos serviram para mostrar que o pensamento dos selvagem, ao contrário da sugestão, é ativo sutil e minucioso. Em 1939 volta à França e funda o Museu do Homem com as coleções colhidas no Brasil. Também separa-se de Dina Dreyfuss e em 1945 casa-se com Rosie-Marie Ullmo e nasce o filho Laurent.
Mesmo Lévi-Strauss não tendo se refugiado no Brasil, pois o país negou-lhe o visto em 1940, com o advento da invasão Alemão na França, 1941, sua biografia está ligada ao Brasil. Com a negativa, o antropólogo decide buscar refúgio em Nova Iorque, e retornaria para França em 1947. Tanto o Brasil quanto os Estados Unidos da América, tiveram vital importância na obra de Lévi-Strauss, que sem o apoio do projeto Rockefeller de resgate de intelectualidade na Europa, o antropólogo não tivesse sobrevivido à Segunda Guerra Mundial. Foram suas primeiras publicações sobre os índios brasileiros, em Nova Iorque, que o fizeram notar nos EUA e engajaram para que ele entrasse no rol dos intelectuais a serem 'preservados'. Em 1974 toma posse da Academia Francesa, 27 de junho. E em
1982 aposenta-se do collège de France, e no ano de 1985 retorna ao Brasil, após 46 anos.

Algumas obras
Em 1958 publicou Antropologia Estrutural, dedicada a memória de Émile Durkheim [1858-1917] fundador das ciências sociais.
Publicou me 1962 ‘O Totemismo Homem’ e o ‘Pensamento Selvagem’ este último dedicado à memória do francês Maurice Merlou-Ponty [1908-1961].
De 1964 a 1971, publicou os quatro volumes de "Mitológicas".
No ano de 1973 publicou ‘Antropologia Estrutural 2’.
Em 1993 lançou História de Lince livro em que reviu toda sua obra e faz uma defesa contundente do método que sempre utilizou para analisar os mitos.
1994 publicou 'Saudades do Brasil" com fotografias do interior do Pais feitas em 1935 e 38.
Em 1996 publicou Saudades de São Paulo, com fotos realizadas entre 1935 e 1937.
Em 2008 o antropólogo e documentarista Marcelo Fortaleza Flores realiza documentário Trópico da Saudade recém-apresentado em Paris.

Programação Brasil/França
No dia 27/11, haverá leitura comentada sobre trechos de sua obra no Centro Universitário Maria Antônia [11/3255-7182]. O ciclo se encerra em 11/12, com a preleção da professora de antropologia da Universidade de Chicago, Manuela Carneiro da Cunha [Brasileira].
"O Efeito Lévi-Straus' no Brasil e nos EUA, ocorrerá no Instituto de Estudos Brasileiros [xxx11/3091-3199]
França
Colóquio internacional Claude lévi-Strauss 'un Parcours dans le Siècle [o percurso de um século], organizado pelo Collège de France, Paris, no dia 25 .
O Museu Quai Branly promove dia 28/11, uma jornada dedicada ao antropólogo, com exposição de fotos feitas no Brasil nos anos 1930, e em Bangladesh, além de documentários, peças etnográficas e leituras de trechos de sua obra.

No comments: