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Thursday, September 11, 2008

Waldemar Henrique: o mundo gosta dele

"Me decepcionei com a escassez, a falta de conhecimento musical de certas figuras importantes do Rio de Janeiro como Joubert de Carvalho, Heckel Tavares e Ary Barroso. Escrevi muitas composições e dei para eles” disse Waldemar Henrique.

O compositor paraense entrou para a história da música brasileira como autor de canções, mas na verdade, é autor de canções de lendas amazônicas, escritas à moda e maneira do folclore da região. Ele é um dos melhores representantes de seu estado natal, o Pará, onde começou seus estudos em piano. Waldemar Henrique Pereira nasceu em Belém do Pará, no dia 15 de fevereiro de 1905. Filho de um português com ma brasileira de origem indígena. Seus estudos foram realizados na cidade do Porto, Portugal, onde morou por vários anos com os pais. Aos 19 anos, ao se apresentar para fazer o serviço militar, ele ficou preso por três meses por haver participado da Revolução de 1924. Bem jovem, foi diretor da Rádio Clube de Belém, um verdadeiro centro artístico da localidade. Mas, em 1933 abandonou o emprego que tinha no Pará, e viajou para o Rio de Janeiro, e deu seguimento aos estudos musicais, especificamente em piano. Lá foi orientado por Barroso Neto, Lourenzo Fernandes, Newton Prado e Arthur Bosmans. Trabalhou na Rádio Tupy, com Carmem Miranda, e desenvolveu sua carreira intensamente em rádios, cassinos e boates de Belo Horizonte, Rio de Janeiro e em São Paulo. No ano de 1936, ele e a irmão Mara, obtiveram grande sucesso com show de folclore amazônico, no Cassino Copacabana. Influenciou a carreira de Dorival Caymmi, musicou filmes para Luiz Peixoto e Carmem Santos.

Sabor do sucesso
O primeiro sucesso foi 'Minha Terra', sendo que várias músicas carnavalescas se popularizam sem a citação do autor. Gravou em 1956, com Vasco Mariz [embaixador e autor de Dicionário Musical] ,o LP 'Sinter' com músicas de sua autoria. Em 1955 gravaria mais dois LP's em Paris, de lá viajou para os Estados Unidos onde ficou por três meses, a convite do governo norte-americano. A partir de 1960, passaria a ocupar vários cargos culturais em seu estado, entre os quais diretor do Teatro da Paz, inaugurado em 1874. Em 1958, obteve o primeiro Prêmio Jornal do Comércio, com a música-tema, de Morte e Vida Severina. Em 1981, foi eleito para Academia Brasileira de Música. Henrique sempre recebeu muitas honrarias como medalhas, embaixador cultural do Itamaraty. Em 1985 chegou a participar do carnaval, Escola Império do Samba - de Belém do Pará, e em junho do mesmo ano, também foi homenageado através do Festival Nacional de Danças, no Rio de Janeiro.
Lendas amazônicas
As canções e lendas amazônicas são o seu forte e gozam de grande popularidade. Os temas indígenas, folclore nordestino e afro-brasileiro e motivos mineiros. "Foi Boto Sinhá", Cobra Grande, Tambatajá, Martintaperêra, Uirapuru, Curupira e Manha-Ningara, lhe deram fama nacional da qual desfruta até hoje. Outros sucessos viriam como Boi-bumbá, Coco Peneruê, Farinhada, Dona Sancha e Trem de Alagoas. Mais recente, 1948, entre sua obras figura Essa Nega Fulô, uma longa canção abrangendo o poema de Jorge de Lima, que faleceu antes vê-lo musicados. Em 1955 foram editadas as canções Três pontos Rituais: Sem Seu - candomblé de Ilhéus, Abá-Logum - uma louvação pernambucana de Xangô, e no Jardim de Oieria - ponto ritual de umbanda, Rio de Janeiro, sobre temas colhidos por Henrique e Camargo Guarnieri. Estes foram considerados os melhores trabalhos de Waldemar Henrique, haja vista que há muito tempo não apresentava nada de novo, desde as Lendas Amazônicas. Mas, outros sucessos nada passageiros, tanto no Brasil quanto no exterior [Paris e EUA] estão registrados em discos: as chulas Rolinha e Morena, o acalanto 'Vento Leve', a cantiga " Violeiro da Estrada", e ' O Virado de Sá Emilinha'. Os discos foram gravados na voz de cantores famosos como por exemplo Ataíde Beck, Clara Petraglia, Inezita Barrozo, Clementina de Jesus, Vanja Orico, Estelinha Egg, Maria Helena Coelho, Maria Lúcia Godoy, Lia Salgado, Alice Ribeiro, Gastão Formenti, Jorge Fernandes, Francisco Alves, Alda Verona, Roberto Galeno e até Fafá de Belém. Ou seja, uma gama de intérpretes que vem desde cantores de óperas aos mais populares.
Miopia / homenagens
Waldemar sofria de glaucoma, e o glaucoma em nada favoreceu ao pianista, cuja música entrou em período de esquecimento na década de 1970. Logo cedo ele passou a sofrer de miopia, que atrapalhava seu trabalho de compositor, ainda o de pianista acompanhador. O artritismo atrapalharia ainda mais o músico, limitando sua função de interprete. A morte de sua irmã, Mara, em 1975, a mais suprema intérprete de suas músicas deixou-o muito triste também. No ano de 1978, a Embrafilme realizou um documentário sobre sua vida e obra, que deu novo impulso à gravação de mais discos com suas canções. Dois bons livros surgiriam sobre o músico, em 1978, de Claver Filho e um outro de 1985, de João Carlos Pereira 'Encontros com Waldemar Henrique', que tinha como base material retirados de fitas cassete. O musico faleceu no dia 28 de março de 1995. [Fale conosco: agenciafm@gmail.com
Outras gravações:
Radamés Gnattali e Waldemar Henrique, com Orquestra de Câmara de Blumenau e Joel Nascimento - Atração Fonográfica (ATR 32045), 1998 (relançamento ao vinil promocional da BASF - 006, de 1986).
Waldemar, com Nilson Chaves e Vital Lima (OBR- 003) - Outros Brasis, 1994.
Canto da Amazônia, Projeto Uirapuru vol. 2 - Maria Helena Coelho Cardoso, PA 0010, Secult-PA, 1997.
Amazônia é Brasil - Turibio Santos e Carol McDavit, Secult-PA, 1999.
O Poeta e seu Canto - João de Jesus Paes Loureiro, Secult-PA, 1999.
Pássaro da Terra - Peça de João de Jesus Paes Loureiro Musicada por Waldemar Henrique, Escritura, 1999.
Fiz da Vida uma Canção... - Andréa Pinheiro canta Waldemar Henrique, Secult-PA, 2001.
A Música e o Pará - Arthur Moreira Lima Interpreta Waldemar Henrique, Secult-PA.

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