Em meados do século XVII, a população da Cidade de São Paulo era pouco mais de 4.000, e pasmem, isso incluía negros e escravos, que sempre ficavam à margem da contagem de habitantes.
Foi nesse período que já se falava em teatro entre nós, cogitando a instalação de um na cidade, mas especialmente, a Casa da Ópera, que funcionaria em um prédio na rua São Bento, no largo de mesmo nome, atual Praça Antônio Prado, centro. O prédio foi alugado de João Dias, por 640 réis por mês. A Câmara Municipal implicou com o teatrinho, mas a briga mais ferrenha foi a beatice exacerbada de alguns. Mesmo assim, o empreendimento perduraria. Um dia o teatrinho teria de desaparecer. Porém, a semente caiu em terreno fértil, e sete anos depois do fechamento se voltaria a falar de um novo teatrinho que funcionava no Palácio do Governo, no Pátio do Colégio. Na ocasião, era governador da capitania o agitadíssimo d. Luis Antônio de Sousa Botelho e Mourão [conhecido por Morgado de Mateus], que aqui chegou com carta branca, para agir como bem entendesse e não vacilou na instalação provisória da Ópera no porão do Palácio. A Casa da Fundição, que se localizava em um prédio na Praça da Sé, mais ou menos onde está a Caixa Federal, adaptou-se uma nova sala para espetáculos, que recebeu também o título de Casa da Ópera. A casa comportava 350 pessoas, construção simples, tinha três portas no rés do chão e três janelas no primeiro andar. No interior, um saguão com duas escadas; uma levava ao camarim governamental e outra aos camarotes, um total de 28 divididos em três ordens. A platéia era mobiliada com bancos simples em madeira. O que falar da iluminação; era a mais precária possível: velas de cera e candieiros alimentados por azeite doce e mechas de algodão trançadas. Os empresários até que se esforçavam para apresentar espetáculos atraentes. Mas as peças principais eram sempre as mesmas: ‘D. José II ‘,e o ‘Convidado de Pedra’ apresentados nas noites de gala.
Curiosidades
Certa vez compareceu na Casa Ópera, um Sacerdote católico, e causou espanto. Mas, não havia nada demais. Talvez a peça com teor muito forte não fosse condizente com sua autoridade. Piadas de mal gosto foram proferidas até que um estudante de nome Caetano de Andrade Pinto, começou a puxar uma paródia burlesca de ladainha, que se fez necessário a presença policial na Casa da Ópera. O eterno delegado paulistano, Conselheiro Furtado, que presidia o espetáculo resolveu suspende-lo, sob protestos da estudantada. Um pouco depois, eis que surgiu do camarote o presidente da Província, Fernandes Torres, que mandou chamar novamente o Conselheiro Furtado, segundo dizem para desautorizar sua atitude anterior, o encerramento do espetáculo. A confusão que ainda não tinha sido debelada com a suspensão da peça e a não devolução do dinheiro dos ingressos, voltaria a se instalar. Dessa vez os estudantes, a maioria do curso de Direito, se posicionaram favoravelmente ao Conselheiro Furtado, delegado de Polícia. Fernandes Torres tentou convencê-los dizendo: foi em atenção ao corpo acadêmico que ordenei o recomeço. Os estudantes responderam em coro: não queremos, não queremos, suspendam-se novamente o espetáculo. O acadêmico João Gabriel Monteiro Navarro emitiu uma frase que fez a platéia gelar tal como uma bomba atômica: "Foi a pedido de Cristina" ! Cristina era uma prostituta, com quem segundo se propalava à boca miúda, o presidente mantinha estreita relação de amizade. O desfecho foi a suspensão do espetáculo definitivamente.
Artistas: Escravos e prostitutas
Não existia regulamentação e muito menos atores profissionais. Os 'atores' eram catados nas ruas entre gente simples e geralmente analfabetas. Caixeiros de lojas ou vendedor, barbeiros etc. Na sua maioria eram 'mulatos'. Para os papéis femininos recrutavam as prostitutas, pois naquela época nenhuma mulher séria se prestava a tal lide. ‘Apesar de tudo, a platéia ria muito com seus dramalhões de capa e espada e dramas lacrimosos, diz Nuto Santana em artigo’. O paulistano ansiava por um teatro melhor e maior do que a Casa da Ópera, que tinha acomodações acanhadas e modestas. As dificuldades na Casa da Ópera ficaram evidenciadas quando da montagem de um texto inédito de Paulo Eiró, um drama em três atos, "Sangue Limpo" , em 2 de dezembro de 1861, fazendo parte das comemorações pelo 36* aniversário de S. M. Imperial, D. Pedro II. O teatrinho do Pátio do Colégio estava com os dias contados, e no final de 1870 foi irremediavelmente condenado. O português Antônio dos Santos Chumbinho foi contratado pela Repartição das Obras Públicas para derrubar o velho edifício. Deu prazo de 40 dias para tal mas não conseguiu devido festejos de Bom Jesus de Pirapora, pois os trabalhadores participavam dos festejos, e, deixaram o serviço para depois dos mesmos; o que atrasou bastante sua derrubada. Por fim, em 7 de setembro 1881, estava tudo no chão, e na localidade foi lançada a pedra fundamental da Tesouraria da Fazenda fora lançada.
O Teatro São José
Nesse período, já funcionava o teatro São José, na Praça João Mendes [antes Largo do Teatro e Largo Municipal]. O são José foi inaugurado em 4 de setembro de 1864, com a peça "A Túnica de Nessus", autoria de Sizenando Nabuco, irmão de Joaquim Nabuco. Em seu palco desfilaram nomes importante como por exemplo Eugênia Câmara e Furtado Coelho. Na trajetória do TSJ, algumas peças foram importantes: "A Dalila", o "Moço Pobre" [Feuillet], "A Moça Rica", ‘O Pedro Sem Mais Nada’, cujo papel principal coube à Eugênia Câmara. Em uma noite desastrosa, em 15 de fevereiro de 1898, enquanto São Paulo dormia um incêndio destruía o TSJ, que funcionou durante 34 anos. O Teatro São José seria reerguido onde hoje encontra-se o Shopping Light [viaduto do chá – centro ] cujo nome é devido ter abrigado a sede da empresa de eletricidade. A partir daí, a história do teatro paulistano é notória.
No comments:
Post a Comment