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Thursday, November 16, 2006

Pintura ouve-se?


Kandinsky queria tornar a arte visual algo como a música: mais abstrata. E esperava que suas pinturas pudessem ser ouvidas por seu público.

Segundo pesquisadores de Norwich / Inglaterra, alguns artistas tem este poder de transmitir para suas telas algo mais que visual; há uma parte auditiva nas obras. Eles relacionam como um mestre nesta façanha, o russo Wassily Kandinsky, cujas obras atraem pessoas pelo fato de seu trabalho poder ser ouvido e não somente visualizado. 

Foi o que afirmaram algumas pessoas ao neurocientista britânico. Para que consiga-se transmitir esta audição nas pinturas, é preciso que o autor seja um sinesteta. Sinestetas são pessoas de grande sensibilidade em que um sentido desencadeia outro, ou seja, são sentidos interligados, de modo que ao ver um quadro como "Composição VIII, 1923", do pintor russo, o trabalho também desencadeia sons. Ainda segundo o neurocientista britânico Jamie Ward, professor da University College London, Kandinsky sabia o que queria: apelava para a audição também em suas obras. Mas há dúvida se o pintor era sinesteta. 

Uma coisa é certa "ele tinha conciência do fenômeno sensorial", afirma Ward. Há indicações na pesquisa de que 1 ou 2 por cento da população é formada por sinestetas, mas Ward acredita que todas as pessoas façam um vínculo inconsciente entre música e arte visual. Para testar a teoria, ele pediu a sinestetas, em uma série de experimentos, que desenhassem e descrevessem sua visão de música tocada pela New London Orchestra. Além disso, notas musicais foram tocadas para pessoas não sinestetas, e que depois reproduzissem em desenho o que viram, melhor ouviram. A obra Composição VIII, 1923 foi descrita assim: O círculo aparece nesta época como símbolo de perfeição e pelas suas conotações cósmicas. A vibrante cor dos anos de "O Cavaleiro Azul" torna-se agora mais plana e lisa. A economia e o rigor do repertório formal apuram-se ao máximo

Animação e imagens

Cem imagens foram mostradas a mais de 200 pessoas e se pediu a elas que escolhessem as animações mais apropriadas à música, e elas sempre selecionavam as imagens criadas pelos sinestetas. "É quase como se todo o mundo fosse capaz de apreciar essas imagens sinestésicas, mesmo que não tenha sinestesia", disse o cientista. Ele também afirma que todas as pessoas nascem com sinestesia, é uma condição herdada e que de algum modo as perdem. Dr. Ward aconselha um estudo mais aprofundado por acreditar que, poderão aprender mais sobre a interligação entre os sentidos e os pensamentos do cérebro humano. [Francisco Martins

Publicado na versão impressa do Jornal Novas Técnicas, edição de novembro 2006, www.jornalnovastecnicas.com.br - leia em Arte / Cultura mais artigos escritos pelo jornalista Francisco Martins

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