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Thursday, March 23, 2006

Rebolo e suas duas artes: pintura e futebol


Arte e futebol foram as duas paixões de Rebollo, um Corintiano, que sempre colocou no início de sua arte raízes populares, como jogador de futebol entre 1917 a 1932, tendo desenhado o símbolo definitivo do clube.



Francisco Rebolo Gonsales nasceu no dia 22/08/1902, na rua Visconde de Parnaíba, Brás - em São Paulo, filho de imigrantes espanhóis que chegaram ao Brasil no final do século XIX. Viveu duas trajetórias: primeiramente, jogador de futebol de 1917 a 1932, atuou no Corinthians de (1921 a 1927) e no Ypiranga, ambos clubes da cidade de São Paulo; a partir de 1934, torna-se pintor. Ao falecer em 10 de julho de 1980, completaria uma história de quase meio século como importante artista plástico. 


Um fato curioso uniu suas duas atividades: na década de 30, pintor já conhecido, desenhou o símbolo definitivo do Corinthians. Como artista participou do Grupo Santa Helena. Aliás, uma característica marcante de Rebolo, que se manifestou claramente durante sua longa trajetória de artista, foi a capacidade de organizador da categoria. Logo no início da carreira, em meados da década de 30, alugou duas salas no imponente edifício Santa Helena - prédio que dividia as antigas Praça da Sé e Clóvis, no centro de São Paulo; nelas montou seu ateliê de pintura de cavalete, utilizando-as também como ponto para atender sua clientela de pintura ornamental de residências, na condição de microempresário. Com espírito de liderança, Rebollo convidou para utilizarem as salas alguns nomes que acabaram entrando para a história da arte brasileira: Aldo Bonadei, Fúlvio Pennacchi, Alfredo Volpi, Clóvis Graciano, Mário Zanini e outros, e dessa convivência e proximidade surgiu o que foi batizado pela crítica da época como "Grupo Santa Helena".

Perfil de organizador

Sempre muito ativo Rebolo ajudava a organizar salões de arte, foi um dos fundadores do Sindicato dos Artistas e Amigos da Arte, o Clubinho, que se tornou uma legenda no panorama cultural (e boêmio) da cidade de São Paulo. Anos depois, estava no grupo que colaborou na criação do Museu de Arte Moderna - MAM/SP e da própria Bienal de São Paulo onde além de expôr participou do júri também. Ganhador de muitos prêmios da crítica em importantes salões de arte, desde o início da carreira, esse processo teve um ponto de inflexão importante com o prêmio de "Viagem ao Exterior", em 1954, que lhe possibilitou viver com a família durante dois anos na Europa ( Itália, Alemanha, França, Espanha e Áustria). No período, desenvolveu nova fase em sua obra pictórica, com sua produção tendo como temática estes países. Retornando ao Brasil, tem início a fase da maturidade, bastante produtiva e marcada por experimentações em que sempre volta ao lirismo original, particularmente em sua década final, nos anos 70, quando viaja muito por todo o país, pintando e expondo.

Paisagem brasileira

Desde o começo da carreira artística, Rebolo foi considerado pela crítica do período um dos mais importantes paisagistas da pintura nacional. Não obstante sua consagração como mestre da paisagem, sua apreciada obra, com um total estimado superior a 3000 pinturas, centenas de desenhos e um conjunto de 50 diferentes gravuras, de variadas técnicas, envolve também como temática um expressivo conjunto de retratos, figuras, naturezas-mortas e flores. Hoje, os trabalhos de Rebolo estão nos principais museus brasileiros, no acervo de órgãos culturais e governamentais e em coleções particulares em todo o Brasil. Dezenas de mostras individuais de sua obras foram realizadas, além de grandes retrospectivas, em São Paulo, no Rio de Janeiro e em Brasília. Em 1986, foi editado livro com reprodução de mais 100 de suas principais pinturas, desenhos e gravuras, contendo estudos críticos e exaustiva resenha sobre a vida e obra de Rebollo. [Francisco Martins]

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