Sílvio Romero se recusou a dar-lhe o real valor e Afonso de Taunay carregou nas tintas. Zaluar foi o primeiro cronista viajante.
Português naturalizado brasileiro morreu em 2 de março de 1882. Augusto Emílio Zaluar, jornalista, tradutor e escritor, é autor do livro considerado clássico " Peregrinação pela Província de São Paulo" 1860, voltado para documentação de uma época da civilização paulista. Fez uma arguta reportagem sobre São Paulo em uma das fases mais significativas e interessante de sua história social. Em suas descrições sobre o interior paulistano como Santos, Campinas, Itu, Piracicaba e Vale do Paraíba, ele cansou de tecer comentários como por exemplo 'clima saudável', 'comércio florescente' população laboriosa e outras frases feitas. Outras vezes imbuído pelos impulsos românticos escreveu coisas estranhas como uma referencia feita a uma casa fazendeira de bananal que lembrava " os castelos da Escócia e os cantos de Ossian..." . Isso não invalida seus escritos ou depoimentos de viagem, que constitui um documento importante para o conhecimento da história paulista, tanto é que em 1954, quando do Quarto Centenário da Cidade, o livro foi reeditado pela comissão organizadora, para a Biblioteca Histórica Paulista.
Há quem diga que Taunay por algum motivo carregou nas tintas, pois Zaluar pode ser considerado o primeiro cronista visitante da cidade que registrou suas feições mais curiosas, a dualidade de sua população constituída de um lado por moradores permanentes e, de um outro, por estudantes. Em suas crônicas ele notou sobre os cursistas " Os habitantes da cidade e os cursistas da Academia são dois corpos que se não combinam se não produzindo um precipitado monstruoso. Formam uma mistura; porém, continuando a servi-nos de uma comparação química, nunca puderam realizar uma verdadeira combinação". Acrescenta também que, " A existência da Academia de Direito e a presença dos estudantes eram condições essenciais, naquele momento, à prosperidade da povoação". Fixando em sua obra 'Peregrinação' aqueles foram os últimos tempos de apogeu da vida acadêmica, aspecto destacado do burgo paulistano de meados do século XIX. Ele foi o último dos moicanos e inscreveu-se entre os inevitáveis cronistas de sua história, inevitável no bom sentido, é claro.
Amigo de Alexandre Dumas, pai
Durante vários anos ele foi colaborador de revistas literárias de Lisboa, mas a partir de 1849, fundou jornais e revistas no Rio de Janeiro e no Vale do Paraíba fluminense, publicou vários volumes de versos e contos, biografias e romances. De sua atividade jornalística, publicava em um jornal carioca a tradução em capítulos do romance de Alexandre Dumas "Os Moicanos de Paris". A tradução era feita de acordo com os capítulos recebidos, e por algum motivo Dumas interrompeu o envio da novela por um longo tempo. Então, Zaluar perdeu a paciência e não teve dúvida: escreveu e publicou um desfecho. Isto é, de sua autoria. Mas, quando voltou a receber os originais de Dumas, continuou tranquilamente à publicação dos originais.
Talvez por episódios como este acontecido com "Os Moicanos" ele tenha sido menosprezado entre a aristocracia literária. Zaluar não conseguiu se inserir no quadro da história da literatura brasileira, ou luso-brasileira. Seu insucesso, afirmam, deve-se aos dois tradicionalistas da cultura paulista; os parcos comentários feitos pelo escritor Sílvio Romero, que em sua vasta obra literária brasileira dedicou-lhe magra ou invisível referência, no capítulo sobre poesia romântica. Outro que também não mediu esforços para desclassificar a obra de Zaluar, Afonso de Taunay que observou no prefácio na reedição do livro de 1954 que particularmente sobre São Paulo "Zaluar deixou rápidas páginas muito medíocres ", escreveu Afonso, Escragnole Taunay. Aproveita-se, para pedir licença e discordar de Taunay quanto sua colocação destemperada. {FM - agenciafm@gmail.com }
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