Seu olhar fixo e distante talvez ligado às memórias quando desafiou Hitler e seus seguidores. Chamada por “Anjo de Hamburgo” não mediu esforços, burlou e descumpriu ordem presidencial para salvar vidas.
Aracy Moebius de Carvalho conheceu João Guimarães Rosa, na época cônsul-adjunto do Brasil em Hamburgo, Alemanha, em 1938, e futuro escritor de sucesso no Brasil. Guimarães Rosas já sabia da proteção que ARA oferecia aos judeus, enquanto funcionária da Embaixada do Brasil naquele país. Recém separada do marido, Aracy sentiu-se deslocada no Brasil pois na época mulher separada não era muito bem vista pela sociedade. Foi de seu passeio a casa de uma tia na Alemanha e sua fluência em Inglês, Francês e Alemão que fora contratada pela embaixada, sendo responsável pela emissão de vistos. Estava prestes a estourar a Segunda Guerra e consigo a perseguição nazista aos judeus. Os vistos para entrada no País haviam sido limitados pelo então presidente Getúlio Vargas motivado pelo rompimento com os alemães. Ela desacatou a autoridade do presidencial e concedeu vistos quase que aleatoriamente aos alemães e judeus facilitando seus embarques ao Brasil. Entre um de seus truques para driblar o cônsul brasileiro era apresentar o passaporte sem a letra "J", que indicava a raça judia. Conseguir atestados de residências falsos também era sua especialidade, mas não aceitava dinheiro ou nada em troca. Era tudo humanitário. O testemunho é de Maria Margarethe Bertel Levy, uma senhora judia de 100 anos, que veio para o Brasil graças a bondade de ARA, como é carinhosamente chamada.
‘Anjo de Hamburgo’
A embaixada brasileira de Hamburgo por um bom tempo foi uma 'festa' para os judeus que procuravam Aracy em período integral para receberem auxílio e assim fugirem dos nazistas. Isso rendeu-lhe dois reconhecimentos: 'Anjo de Hamburgo' como é chamada no exterior e também um bosque leva seu nome em Israel. Por sua bravura em desafiar os nazistas foi a única mulher brasileira convidada para plantar uma árvore no Bosque dos Justos, em Israel, um local criado para homenagear pessoas não-judeus que salvaram vidas judias das perseguições de Hitler e seus seguidores. Também é a única brasileira que tem o nome citado no Museu do Holocausto, em Washington [EUA] e em Israel.
Casamento de mentirinha
Como ambos já haviam se casado uma vez, Aracy e Guimarães Rosas casaram-se em 1947, por procuração na Embaixada do México, no Rio de Janeiro. O casamento não era oficial, e isso dificultaria a indicação para que ambos trabalhassem na mesma embaixada. A embaixada do Equador formulou um convite para ela trabalhar como secretária, mas Aracy preferiu declinar e abandonou a vida diplomática. Em 1948, o então futuro escritor, João Guimarães Rosa foi indicado como conselheiro da Embaixada brasileira em Paris, França, e ao retornarem compraram uma casa em Copacabana, Rio de Janeiro. Nesse período ele escreveu suas obras mais famosas como 'Sagarana", Primeiras Histórias. Para ela, Guimarães Rosas dedicou sua obra mais importante: “Grande Sertão: Veredas". O escritor faleceu em 1967. Aracy de Carvalho completa 100 anos, com um olhar fixo e distante, envolto em suas lembranças. Sofrendo do mal de alzheimer, Aracy muitas vezes não reconhece o filho, Eduardo Tess,79, com quem ela mora há dez anos em São Paulo. Ele é o encarregado de contar as histórias vividas por ela. [Francisco Martins][Foto à direita Revista Época]
Aracy Moebius de Carvalho conheceu João Guimarães Rosa, na época cônsul-adjunto do Brasil em Hamburgo, Alemanha, em 1938, e futuro escritor de sucesso no Brasil. Guimarães Rosas já sabia da proteção que ARA oferecia aos judeus, enquanto funcionária da Embaixada do Brasil naquele país. Recém separada do marido, Aracy sentiu-se deslocada no Brasil pois na época mulher separada não era muito bem vista pela sociedade. Foi de seu passeio a casa de uma tia na Alemanha e sua fluência em Inglês, Francês e Alemão que fora contratada pela embaixada, sendo responsável pela emissão de vistos. Estava prestes a estourar a Segunda Guerra e consigo a perseguição nazista aos judeus. Os vistos para entrada no País haviam sido limitados pelo então presidente Getúlio Vargas motivado pelo rompimento com os alemães. Ela desacatou a autoridade do presidencial e concedeu vistos quase que aleatoriamente aos alemães e judeus facilitando seus embarques ao Brasil. Entre um de seus truques para driblar o cônsul brasileiro era apresentar o passaporte sem a letra "J", que indicava a raça judia. Conseguir atestados de residências falsos também era sua especialidade, mas não aceitava dinheiro ou nada em troca. Era tudo humanitário. O testemunho é de Maria Margarethe Bertel Levy, uma senhora judia de 100 anos, que veio para o Brasil graças a bondade de ARA, como é carinhosamente chamada.
‘Anjo de Hamburgo’
A embaixada brasileira de Hamburgo por um bom tempo foi uma 'festa' para os judeus que procuravam Aracy em período integral para receberem auxílio e assim fugirem dos nazistas. Isso rendeu-lhe dois reconhecimentos: 'Anjo de Hamburgo' como é chamada no exterior e também um bosque leva seu nome em Israel. Por sua bravura em desafiar os nazistas foi a única mulher brasileira convidada para plantar uma árvore no Bosque dos Justos, em Israel, um local criado para homenagear pessoas não-judeus que salvaram vidas judias das perseguições de Hitler e seus seguidores. Também é a única brasileira que tem o nome citado no Museu do Holocausto, em Washington [EUA] e em Israel.
Casamento de mentirinha
Como ambos já haviam se casado uma vez, Aracy e Guimarães Rosas casaram-se em 1947, por procuração na Embaixada do México, no Rio de Janeiro. O casamento não era oficial, e isso dificultaria a indicação para que ambos trabalhassem na mesma embaixada. A embaixada do Equador formulou um convite para ela trabalhar como secretária, mas Aracy preferiu declinar e abandonou a vida diplomática. Em 1948, o então futuro escritor, João Guimarães Rosa foi indicado como conselheiro da Embaixada brasileira em Paris, França, e ao retornarem compraram uma casa em Copacabana, Rio de Janeiro. Nesse período ele escreveu suas obras mais famosas como 'Sagarana", Primeiras Histórias. Para ela, Guimarães Rosas dedicou sua obra mais importante: “Grande Sertão: Veredas". O escritor faleceu em 1967. Aracy de Carvalho completa 100 anos, com um olhar fixo e distante, envolto em suas lembranças. Sofrendo do mal de alzheimer, Aracy muitas vezes não reconhece o filho, Eduardo Tess,79, com quem ela mora há dez anos em São Paulo. Ele é o encarregado de contar as histórias vividas por ela. [Francisco Martins][Foto à direita Revista Época]
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