No verdor dos seus 16 anos ela foi trabalhar em uma imprensa que se renovava criativamente e fazia um jornalismo corajoso, intuitivo e repleto de aventura, aliado à bizarrice pessoal.
A presença da mulher na imprensa brasileira data de primeiro de janeiro de 1852, com o Jornal da Senhoras, no Rio de Janeiro. Dirigido exclusivamente por mulheres, e inicialmente pela escritora argentina Joana Paulo Mauro de Noronha, e seis meses depois entregaria a diração à escritora baiana Violante Atabalipa Ximenes de Bivar e Vellasco. Dando continuidade a essas precursora, contou nossa imprensa com inúmeras mulheres de talento, como cronistas folhetinistas, articulistas, ensaistas e poetisas, mas jamais como repórteres. Entre as mulheres que se destacaram vale relembrar: Júlia Lopes de Almeida, Corina Coaraci, Emília Moncorvo Bandeira de Melo - assinava Carmem Dolores -, e sua filha Cecília, que assinava Mme. Crisanthème. No início do século XX a função de repórter era exclusiva dos homens, e foi com grata surpresa que o público acompanhou o surgimento de Eugênia Brandão, a primeira mulher a desempenhar esta função, de repórter.
Eugênia
A mineira de Juiz de Fora, nasceu em 6 de março de 1898, filha do Dr. Armindo Gomes Brandão e de Maria Antonieta Armond Brandão. Eugênia era bisneta de Mariano Procópio Ferreira Lage, e teve uma infância nababesca, mas uma adolescência empobrecida. Viajou com sua mãe para o Rio de Janeiro, onde arranja um modesto emprego, nas agências dos correios, instalada na Rua da Lapa. Eugênia era irrequieta e boêmia, de ar petulante e no fervor dos seus 16 anos mudaria radicalmente sua vida. Seu estilo de escrever, sua desenvoltura e permanente curiosidade o faz ingressar na redação do vespertino A Rua [1914 - e extinto em 1927], dirigido por Viriato Corrêa, mas logo mudaria para Última Hora, sob direção de Samuel Wainer, e que tem circulação até os hoje. Dentre seus colegas de redação Olegário Mariano e Cásper Líbero. Colaborou para, também, com Don Casmurro e Para Todos... tendo Alvinho como diretor literário, e diretor artístico, o maior cartunista brasileiro, jamais superado, Jota Carlos.
Casa-se com Álvaro Moreyra
Em seu convívio jornalístico fizera muitos contatos, e, entre os quais conheceu o poeta Álvaro Moreyra, que trabalhava como redator do semanário ilustrado Fon-Fon. Logo no primeiro encontro ambos ficaram loucamente apaixonados, como o amor apimentado de um poeta e uma repórter, a partir daí para o casamento tudo foi rápido como em contos de fadas. O casamento rendeu-lhe uma prole de oito filhos sendo que sobreviveram o jornalista esportivo Sandro Luciano, João Paulo, diretor de Acadêmia de Ballet, Álvaro Samuel - pintor, e Rosa Marina , funcionária da Caixa Federal [os outros 4: Collete, Ysia, Valdo e Maria da Graça morreriam quando crianças]. Eugênia foi mãe atenta e esposa exemplar durante sua clausura de oito anos longe do jornalismo, até criar os filhos. Neste período Moreyra mantinha encontros com os amigos em sua residência, Rua Xavier da Silveira, 99, para mantê-la atualizada dos fatos e oferecer fartas macarronadas ou as famosas soupe à l'oignon. Ela foi a musa inspiradora de Alvinho, Álvaro Moreyra, e sempre eram vistos juntos nos meios jornalísticos e culturais.
Uma pessoa contundente
Com um temperamento feito de surpresas e de ímpeto, suas reações eram prontas e imprevistas. Ao mesmo tempo que escrevia uma notícia a deixava de lado para dar uma volta na praia. Porém, em suas gargalhadas sadias animava as coisas mais tristes, e tinha sempre uma frase a superar situações tristonhas. Foi com surpresa que ela anunciaria sua retirada da imprensa para uma clausura de verdade, uma cela de um convento, Asylo Bom Pastor. O que levou Eugênia ao convento? Desgostos intimos? Impressão religiosa ou o que?. Eugênia entraria para o Asylo Bom Pastor para bisbilhotar entre as inetrnas daquele reformatório. A missão de Eugênia Brandão seria levantar uma história sobre moça que lá estava e era acusada de assassinar a própria irmã grávida. Foi um longo retiro, de 3 anos aproximadamente. Ela foi visceralmente repórter, soube enfrentar a "luta de foice" que era na época a cata à notícia; o fato sensacional. Eugênia foi contemporânea de uma geração de famosos repórteres: Manuel Bernardino, Mauro de Almeida, Eustachio Alves, Sílvio Leal da Costa, Castellar de Carvalho, Carvalho Neto entre tanos outros. Apesar de sua aparente petulancia, ela foi uma mulher de atividades socias como a assistência à Casa do Estudante e a presidência da Casa dos Artsitas, ao lado do ator Ferreira Maia. Seu nome figurou ao lado das mais expressivas personalidades da imprensa da época. Como era moda, ela foi retratada por Di Cavalcanti e Smailovitch [obra acima]. Eugênia Brandão morreu aos 50 anos de idade. [FM]
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