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Thursday, April 24, 2008

Pintura retabular

As gravuras tem sido utilizada como fonte gráfica e iconográfica na pintura retabular desde os séculos XV e XVI, sendo mais acentuado o seu uso em obras realizadas nas oficinas do Norte da Europa. Oficinas estas atestada por renomados historiadores da Arte europeus.Vários foram os que se destacaram nessa arte, em Portugal por exemplo Dagoberto Mark e bem mais recente Vitor Serrão.


Gravuras de incunábulos do século XV com obras da pintura portuguesa, cujas datas remontam os anos de 1495 a 1540, ou seja, do reinado de D. Manuel e parte do de D. João III, que tinha preferência a produção das oficinas portuguesas ás da Itália. As gravuras funcionam, em sua relação com as pinturas que delas se aproximam, como um instrumento de trabalho, meio de produção. Esse meio de produção não implica, todavia, que o pintor siga o modelo na sua integralidade, sendo mesmo freqüênte uma re-interpretação do seu sentido. Consequentemente, a resultante formal nem sempre é coincidente com a imagem da gravura. Aliás, as gravuras soltas, executadas isoladamente ou integrando séries, terão servido muito mais que as gravuras dos incunábulos, como fonte de inspiração iconográfica, e algumas vezes, mesmo, como fonte estilística, de muitas pinturas. Como por exemplo, a extensa obra de Albrecht Dürer, ou Martin Schongauer e do Mestre E. S. No que ao primeiro diz respeito sabe-se, pelo testemunho de Johannes Cochlaeus, em 1512, que "os mercadores de Itália, França e Espanha andam a comprar gravuras de Dürer como modelos para os pintores das suas terras". Um inventário feito recentemente dá conta de que existem cerca de 2000 gravuras, sendo que 584 exemplares, na sua maioria obras religiosas, de autores clássicos ou tratados de geometria e astronomia.

Incunábulos
Primeiramente devemos caracterizar o que são incunábulos. Em uma definição quase dicionarista diríamos que incunábulos são os livros considerados como os primeiros exemplares cuja feitura remonta à introdução da imprensa, por Guttenberg, em meados do século XV. Na primeira fase costumam agrupá-los em duas classes distintas: tabelários ou xilográficos / tipográficos. A primeira classe pertencem os incunábulos impressos por meio de pranchas de madeira de uma só peça, esculpidas ou gravadas; a segunda classe são impressos já em caracteres móveis, a princípio feitos em madeira e depois em metal. Segundo especialistas, são quatro os incunábulos mais representativos da edição impressa no século XV. A Crônica de Nuremberg [Liber Chronicarum], 1497, de Schedel-Wolgemut - e impresso na oficina de Anton Koberger -, do qual existem apenas 24 exemplares, em bibliotecas portuguesas -, a Bíblia Pauperum, do final do século XV, em edições xilogravadas, guardadas na Biblioteca Nacional de Paris e na British Library, e mais o Speculum Humanae Salvationis, também em xilogravura. O quarto incunábulo, o Ars Moriendi [arte de morrer], exemplar que faz parte do conteúdo da Biblioteca Nacional de Lisboa, e é assinado por um desconhecido mestre I. D.

Outros exemplares podem ser adicionados aos citados, por exemplo a Vita Christi, de Ludolfo da Saxônia, feito a mando de D. Leonor, em 1495, ao impressor Valentim Fernandes, obra ilustrada com um Calvário atribuído ao mestre E. S., um dos mais conceituados gravadores romanos do século XV. Incunábulos como os de doutores da igreja ou de S. Boaventura ou ainda as inúmeras bíblias - aproximadamente 40 foram impressas desde 1471 a 1502. Citá-las nos parece coerente. Documentos do período de D. Manuel I, mais precisamente cartas de quitação passadas ao seu escudeiro Manuel Fernandes, são testemunho dessa situação, a qual é confirmada por uma extensa relação de produtos exportados da Flandres para Portugal, mencionada e descrita na obra clássica de A. J. Goris, Étude sur l' économie marchande méridionale entre Flamands et Portugais à Anvers [1488-1562].

Ler e orar pela imagem
A partir de 1450 o papel passa a desempenhar uma função muito relevante como suporte, substituindo o pergaminho. É a vez do papel que vai permitir, pelo seu baixo custo e textura, a difusão dos textos e das gravuras, então realizadas em madeira, com um objeto apropriado que seguia as linhas de um desenho prévio. A imagem além do texto, encontram aí a sua grande possibilidade de divulgação. Segundo Lucien Febvre nestes tempos em que a religião estava no centro de toda a vida espiritual e intelectual, em que a igreja tinha um lugar tão importante, em que toda a cultura era essencialmente oral, o emprego de um processo gráfico, permitindo multiplicar as imagens de cunho piedosas, mostrava-se bem mais necessário que a imprensa. Fazer penetrar por toda a parte as imagens dos santos que não se viam, até então, nos portais, nas paredes e nos vitrais das igrejas, divulgar as suas lendas, e permitir a cada um contemplar à vontade, em sua casa: os milagres de Cristo e as cenas da Paixão, fazer reviver os personagens da Bíblia, evocar o problema da morte, mostrar a luta dos anjos e dos demônios à volta da alma do moribundo. Foi esse o papel essencial da imagem xilográfica cuja necessidade já se fazia sentir bem antes e bem mais fortemente que a de reproduzir em numerosos exemplares. Mas, só a pedido de uns punhados de doutores e clérigos, textos literários, teológicos ou científicos que tinham ficado até aí manuscritos, que as imagens puderam ser impressas.
Já a literatura mais divulgada naquele tempo dedica-se aos temas mais populares da época: apocalipses figurados, Bíblias dos Pobres, Histórias da Virgem ou, ainda, Espelhos de Redenção, Paixões de Cristo, Vidas dos Santos, Artes de Morrer entre outros temas. Pequenos livros nos quais o texto começava a ter importância ao lado da ilustração, esses livrinhos davam aos pobres clérigos isolados, exemplos para a preparação dos seus sermões e para o estudo da religião. Sobretudo, pelo seu preço e pela sua concepção gráfica tornavam o livro, pela primeira vez, acessível às classes populares; mesmo aqueles que não sabiam ler podiam compreender o sentido destas sequencias de imagens. Muitas dessas obras ilustradas e largamente divulgadas estão também representadas, vastamente na própria pintura portuguesa do século XVI.

A Bíblia Pauperum – Bíblia dos Pobres
A Bíblia Pauperum é entre os incunábulos ilustrados de meados do século XV, aquele que mais edições teve, variando a língua em que o texto era escrito em latim, alemão, francês, inglês e variando, também, a qualidade do desenho. Das edições que apreciamos uma é alemã e das mais antigas. O exemplar existente na Biblioteca Nacional de França é colorido, mas de menor expressividade plástica. O incunábulo recebeu o nome de Bíblia dos Pobres porque oferecia um resumo da Bíblia a bom preço, não aos laicos, que não sabiam ler, mas aos "povres clercs" que não podiam oferecer-se ao luxo de uma Bíblia completa. Trata-se de uma compilação teológica, inicialmente não ilustrada, que se julga ter sido redigida no Norte da França, em meados do século XI e cujas edições eram, naturalmente, manuscritas, como a mais antiga que se conhece, datada de 1300 e proveniente do Mosteiro de S. Floriano, na Áustria. Só no século XV a Bíblia Pauperum se tornou popular graças, às gravuras de madeira, muitas vezes coloridas, com que se entretiveram a ilustrá-la. Cada cena do Novo Testamento está enquadrada por duas prefigurações. O artista conta a vida de Cristo à maneira do século XIII, quer dizer desenvolvendo longamente a Infância e a Paixão e suprimindo, ou quase, toda a vida pública.
Todas as edições xilografadas, progressivamente melhor elaboradas, mantiveram sempre a preocupação das concordâncias entre o Novo e o Antigo Testamento incluindo um texto muito curto a explicar cada uma das cenas do Antigo Testamento; mas é evidente que, aqui, o texto tem pouca importância e que semelhante livro foi feito, sobretudo, para falar aos olhos. A Bíblia Pauperum, tal como o Speculum Humanae Salvationis, foi uma das principais fontes da arte flamenga desde o século XV e a respectiva temática surge, em primeiro lugar, e com maior evidência, nas tapeçarias da catedral de Reims e em Chalons-sur-Saone, ou na escultura religiosa do tempo.
Em contrapartida foi criada LIBER CHRONICARUM - PARA A BURGUESIA. O Liber Chronicarum, designado correntemente por Crônica de Nuremberg, data de 1493, é também um dos mais volumosos incunábulos da época. Os seus 305 fólios, são impressos na frente e no verso, e exigiram a execução de duas mil madeiras para o ilustrarem. A importância e influência que o incunábulo teve na época, enquanto obra erudita destinada à burguesia, aos ricos. As primeiras edições xilográficas ilustradas da Bíblia Pauperum surgem quando o gosto gótico ainda mantinha em destaque. A Bíblia Pauperum como a pintura obedecem a indicação iconográfica. As gravuras e, explicitamente, as da Crônica de Nuremberg e da Bíblia Pauperum serviram para várias outras pinturas. [AgênciaFM]

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