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Tuesday, March 21, 2006

Museu da Língua Portuguesa

Literatura brasileira chega à Estação da Luz e homenageia todos os brasileiro de nascimento ou por adoção. É uma junção de mídia interativa com o passado.

Porta de entrada em São Paulo e primeiro contato de muitos imigrantes com o idioma do país, no fim do século 19, a Estação da Luz foi o ponto escolhido para abrigar o Museu da Língua Portuguesa, cuja inauguração ocorreu em 20 de março de 2006. Projeto é fruto da parceria entre Fundação Roberto Marinho, Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo, Ministério da Cultura, Fundação de Países de Língua Portuguesa e outros, cutou R$ 36 milhões e ocupará os três andares do antigo prédio administrativo da gare, o museu tem como locomotiva a literatura brasileira. Ela estará à espera dos visitantes passageiros no terceiro andar, onde começa a viagem. Lá fica a Praça da Língua, onde o compositor José Miguel Wisnik e o professor da PUC-SP Arthur Nestrovski, propõem uma composição de pérolas da poesia e prosa nacionais. Com cerca de 48 minutos - duração ainda provisória -, o espetáculo audiovisual vai promover diálogos entre as vozes de artistas como Chico Buarque, Fernanda Montenegro, Tom Zé, Ferreira Gullar etc., e imagens que ilustram suas récitas, cerca de 99% advindas da literatura brasileira, segundo Nestrovski. A apresentação é dividida em 21 módulos, alguns com um texto só, outros com textos unidos por um eixo. Às vezes, a ligação é explícita, como Chico Buarque, que é autor de "Sabiá", e lê "Canção do Exílio", de Gonçalves Dias, num módulo que tem ainda poemas de Murilo Mendes e Oswald de Andrade que dialogam com o tema exílio", conta Nestrovski. [Foto acima Jorge Sampaio, presidente de Portugal com Geraldo Alckim]

Rítmos e Imagens

No segundo piso, a próxima parada da visita pelo português: na Grande Galeria, uma tela de 120 metros exibe filmes que revelam o idioma nos nossos afazeres, e painéis lembram as influências lingüísticas. Depois, o crítico e historiador da literatura Alfredo Bosi compila cem textos representativos da literatura em língua portuguesa, numa linha do tempo que vai do Brasil colonial ao século 20. Segundo Bosi, o objetivo principal da linha foi a inclusão de obras de autores brasileiros "de nascimento ou adoção, que, nesta data, 2006, já nos deixaram". O historiador percorreu as letras no país da carta de Pero Vaz de Caminha e José de Anchieta, a quem chama de "primeiras vozes da condição colonial entre nós", até a poesia "rigorosa de João Cabral e as experiências narrativas densamente existenciais de Guimarães Rosa e Clarice Lispector", em que a língua portuguesa apresenta uma riqueza de tons e perspectivas, de ritmos e imagens. É a primeira instituição totalmente dedicada ao idioma natal de um país. Seu principal objetivo é mostrar que a língua é elemento fundamental e fundador da cultura brasileira. Será um espaço multimídia, projetado para ensinar e motivar o visitante. Ocupa a ala leste do prédio da Luz, que desde 2002 está sendo preparada para abrigá-lo. Duas motivações principais respaldaram a escolha do local: o fato de o edifício ser um patrimônio histórico e estar localizado em São Paulo, a cidade com a maior número de pessoas que falam o português em todo o mundo. Cada detalhe dos saguões, o principal e dois laterais, e da gare foi estudado em prospecções para ser recuperado. Já a construção de dois saguões e da galeria que dá acesso ao Metrô por baixo da Estação também foi realizada sem que nada fosse alterado na superfície, com obras subterrâneas. Em cima, o passado revive, embaixo, a galeria, com o painel Epopéia Paulista, da artista plástica Maria Bonomi, reconhecida internacionalmente como uma das maiores gravuristas da atualidade, retrata a história da Estação, com muita modernidade.

Temporária

A viagem pela língua portuguesa nos trilhos da literatura brasileira termina no primeiro andar, onde a diretora de teatro Bia Lessa assina a primeira exposição temporária do museu, que durante seis meses irá homenagear os 50 anos de "Grande Sertão: Veredas", de João Guimarães Rosa, que ocupará 480 metros quadrados.A obra de Guimarães Rosa foi uma escolha sua. "Ele é um ícone da língua portuguesa, inventa o idioma ao mesmo tempo que constrói seus personagens. Não cheguei a ter dúvidas", diz Lessa. No chão, elementos como terra e barro remetem ao cenário do livro e um mapa aponta as trilhas dos personagens Riobaldo, Diadorim etc. A sala toda, aliás, terá um aspecto de não-acabada, uma alusão, segundo Lessa, à língua em construção. Por fim, num espaço da sala, será possível ouvir a cantora Maria Bethânia lendo 14 páginas de "Grande Sertão: Veredas".
[Francisco Martins]

SERVIÇO:
Museu da Língua Portuguesa
Estação da Luz - Centro /SP
Terça a domingo
Das 10h00 às 18h00
[ R$ 2,00 até R$ 4,00 ]

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