Embolador famoso resolve se aposentar em 1944 e revela-se um grande arte primitivista com obras na Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, Portugal.
Nascido na cidade do Cabo, Pernambuco, no dia 27 de setembro de 1910, Manuel Pereira de Araújo, mais conhecido como Manezinho Araújo, era filho de Joventina Pereira de Araújo e de José Brasilino de Araújo, um funcionário da Companhia Great Western. Sua infância foi toda passada no bairro de Casa Amarela, no Recife. Ainda adolescente, ele iria conhecer Minona Carneiro, um grande cantador de emboladas que foi seu professor e incentivador. Foi através dele, que Manézinho veio a se apaixonar pela música. Araújo seria um dos maiores divulgadores e intérpretes da embolada no País. Mas, o que vem a ser a embolada? Trata-se de uma das formas mais originais das músicas do folclore do Nordeste do Brasil, feita de maneira humorística, o embolador discorre sobre pessoas, temas e contando vantagens como se fosse um cronista. Alguns consideram que a embolada tem sua origem na literatura de cordel e, à ela, está sempre relacionada. O interesse dos sulistas pelo folclore e músicas nordestinas, se deve a Manezinho Araújo, que participou, também, de vários filmes brasileiros, cantando emboladas ou seja contando um caso, bem como de 22 cinejornais da Atlântida. Em 1945, quando gravou o calango Dezessete e setecentos, de autoria de Luís Gonzaga e Miguel Lima, o compositor obteve muito sucesso. Do final de 1930 até a década de 1950, Manezinho Araujo gravou mais de 50 discos 78 rpms e quatro LPs. Suas composições foram gravadas, ainda, por vários cantores brasileiros. Gravou com nomes conhecidos como Fernando: Cuma é o nome dele?, Maria roxa, Pra onde vai valente?, De jeito nenhum, Ai, ai, ui, ui, Carrité do coroné, Vatapá, Amô de rede, Tamanqueiro, Palmatória e Vapô de caragola. Já com Ismael Neto, ele compôs Suspiro que vai e vem; com Hervê Clodovil, Rua do sol, Tem dó e A saudade é de matar.
De Edith Piaff a Carmen Miranda
No ano de 1930 Manezinho Araujo ingressava como soldado no exército revolucionário, e quando o seu pelotão chegou à Bahia, o governo havia se rendido e a tropa, a título de prêmio, ganhou uma viagem para o Rio de Janeiro. No Rio, entretanto, ele chegou a passar fome e, para sobreviver, cantava em cabarés. Por sorte, ele conheceu alguns músicos e começou a se apresentar em programas de rádio, como cantador de emboladas. Ele era escalado para cantar na Rádio Mayrink Veiga, às segundas e sextas-feiras, e se apresentava em vários Estados, também. Com o passar do tempo, ficaria conhecido como "o rei da embolada". Também, no Rio de Janeiro, além de boates e cassinos, Manezinho trabalhou em outras rádios Tupi, Guanabara. Ao mudar-se para São Paulo, ingressaria na Record. Atuou como jornalista no rádio e na imprensa escrita, na Revista do Rádio a coluna Rua do Pimenta. Foi dono de restaurante, também. O seu restaurante chegou a ser freqüentado por inúmeras personalidades nacionais e internacionais, tais como Edith Piaff, Yul Brinner, Carmen Miranda, Villa-Lobos, Cacilda Becker, Raquel de Queiroz, entre tantos outros.
Trocando às artes
Em 1954, aos 44 anos de idade, no Tijuca Tênis Clube, o compositor abandonava a música e passaria à pintura. O início na pintura veio de modo inusitado, no começo da década de 1960 quando a sua esposa adqüiriu uma gravura inglesa para ornamentar a casa. Autodidata, e dizendo-se "ceguinho em técnica", Manezinho começou nas artes pintando aquarela e guache, tudo sem orientação alguma, e mais tarde passaria a pintar com tinta a óleo, quando sua esposa lhe presenteou com um conjunto de tintas, por ocasião do seu aniversário. Em estilo primitivo puro, ele passava para às telas cenas de sua infância, juventude e da maturidade, retratando as raízes do Nordeste do Brasil: pintava cidades, paisagens, palafitas, barqueiros, marinhas, pescadores e baianas. Então, o cantor famoso, Manezinho Araújo viria a se tornar um dos artistas mais conceituados do País, em se tratando do estilo primitivo. Roram mais de trinta exposições e os seus quadros sempre bem valorizados. Algumas de suas pinturas se encontram em museus regionais, como o de São Luís [MA], o de Araxá [MG], Feira de Santana [BA]. Duas de suas telas estão expostas no museu da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, Portugal. Manezinho Araújo faleceu em São Paulo, no dia 23 de maio de 1993.
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